Tirei minhas botas e pus meus pés nas pedras quentes da serra, uma brisa morna me abraçou. O ar tem um constante cheiro de madeira envelhecida. Depois de caminhar por algumas horas, a água do meu cantil parece estar fervendo, mas foi o suficiente pra tirar a poeira do rosto. Depois que sentei demorei um pouco pra abrir os olhos, a claridade ofuscava a visão. Mas tomei coragem e... quase não acredito no que meus olhos estão vendo. Não quis trair a memória com o tempo, puxei o gatilho dos cliques e agora tento me confessar nessa folha branca. Sinto uma espécie de prazer com culpa por estar aqui. Esse refúgio fugaz não devia estar ao alcance dos homens. Somos rudes demais, frios demais, gananciosos demais pra poder estar aqui. A beleza e a poesia desse lugar deveriam estar trancadas, isoladas, longe o suficiente dos humanos para que nem o mais remoto desejo de cobiça possa vir a destruir a mágica milenar que desenhou em dourado e verde.
A Capivara deveria estar disponível somente pros seus verdadeiros donos. Mas cá estou eu, me sentindo culpado por ter olhos, por ter câmera, por ter botas, por ser homem. Cá estou eu, fingindo não ser o que todos são: um caçador de horizontes.
A Capivara deveria estar disponível somente pros seus verdadeiros donos. Mas cá estou eu, me sentindo culpado por ter olhos, por ter câmera, por ter botas, por ser homem. Cá estou eu, fingindo não ser o que todos são: um caçador de horizontes.
Serra da Capivara, Piauí, Brasil.
Outubro de 2010.
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