4 de junho de 2013

Caminhada


Sem cuidados ela caminhava, cuidando do mundo que nunca cuidou dela.

A areia branca e macia contrastava com a cor escura da pele e a firmeza da sua expressão. Já bem de longe eu via seu movimento ritmado como se fosse uma marcha, pronta pra batalha. A conquista do dia era o ouro que pessoas como eu, vindas do sudeste, descartamos todos os dias. O ouro vinha em cima da cabeça. Embaixo dela, dor. Exitei clicar por alguns segundos, talvez por medo de achar que minha foto pudesse ser só mais um tipo de exploração poética da mazela alheia. No fim o fiz. Mas quis mais. Enchi o peito de coragem e perguntei pra onde iria a água e se precisava de ajuda... ela me sorriu com pouca brancura mas muita alegria: "não, moço, eu moro logo ali, a água é pra beber mesmo. O senhor quer?". Dona Nazaré, 69 anos, quatro filhos, cinco netos, e um pequeno mundo pra compartilhar com todos. Obrigado, dona!


Santa Filomena, Piauí, Brasil.
Maio de 2013


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