Na semana passada, durante uma conversa com uma reconhecida ecóloga e
professora aqui do Rio de Janeiro eu fiquei chocado ao ouvir um comentário
dela, dito de maneira natural e calma: “Não
há mais o que fazer. Temos apenas que aceitar que as gerações de agora já estão
perdidas e lutarmos para tentar salvar as próximas”. Já tem mais de uma
semana que essa frase não sai da minha cabeça e não consigo me desvencilhar
dessa ideia de termos uma geração inteira que não irá dar qualquer passo para o
progresso da ciência, da cultura, da economia e enfim, da sociedade como um
todo. Aliás, será isso verdade? E se for, de quem é a culpa?
É impossível responder a primeira pergunta, mas sinceramente, eu não
condeno a opinião da professora. Nosso acelerado crescimento demográfico e aprofundamento
do abismo social que separam as classes, acompanhado de uma política de
assistencialismo barato que despreza e sucateia a educação está produzindo um exército
de pessoas sem qualquer expectativa de uma vida socialmente estável, o que futuramente
pode gerar um déficit nos diversos pilares da sociedade que necessitam de um
desenvolvimento educacional forte, como a ciência, a economia, as engenharias e
a administração pública. Como consequência disso há uma forte tendência de
termos um futuro preocupante e execrável, com poucos professores bons, o que
agravará ainda mais esse problema para as próximas gerações, criando um progressivo
e nocivo efeito em cascata. Ah, se você está achando esse discurso familiar,
não se preocupe, é que eu já disse algo parecido em outro texto nesse mesmo blog.
Quanto à segunda pergunta, é difícil de responder, mas não impossível.
Logo, vou apenas dar a minha opinião, que provavelmente deve variar de pelo
menos a metade das pessoas que leem esse blog. A culpa dessa geração perdida
não é de uma pessoa ou instituição apenas, é uma culpa compartilhada. Os
primeiros culpados, contrariando todas as expectativas, são os próprios
professores. Imagino que nesse momento você deve estar querendo tacar fogo na
minha foto do perfil, mas é isso que penso. O sistema educacional brasileiro,
público ou privado, é administrado quase que totalmente por professores que, em
algum momento, tornam-se diretores, subsecretários, etc. Dentro do cenário
brasileiro, se uma escola está indo de mal a pior é porque os dirigentes dela
não estão muito interessados na estruturação dela. Se os alunos estão em
decadência é porque esses mesmos professores não estão se empenhando muito em
cumprir suas funções profissionais e filosóficas. Sei que muitos não
concordarão, mas falo disso porque estou dentro do sistema. Venho de um curso
de licenciatura, dei aulas em colégios por três anos, vi de perto como o
sistema funcionava e posso dizer com segurança que mais da metade dos
professores que conheci não tinham preparo, capacidade técnica ou vocação para
a profissão, o que é preocupante e triste. O segundo culpado é o governo, o que
não é surpreendente, considerando que os investimentos atuais em educação no Brasil
são risíveis. Falta de escolas, de contratação de professores, de material, de
merenda e excesso de burocracia e picaretagem. Sem falar nos próprios
regimentos internos, que por vezes permitem o sistema de aprovação automática e
outras aberrações. Por fim, a culpa também é compartilhada com nós, população
brasileira. Afinal de contas, são nossos filhos que estão frequentando essas
escolas falidas e estamos assistindo a tudo isso sem fazer nada. Pior que isso,
estamos sendo cúmplices e ajudando a piorar, já que está difícil encontrar uma
família que se preocupe em educar seus filhos de maneira digna e eficaz.
Não quero me prolongar ainda mais, só que fica claro que estamos em
uma problemática tão complexa quanto o novo layout do facebook. Em um mundo paranoico
como o nosso, cheio de brigas por direitos humanos, discussões sexuais, Marco
Feliciano e Rock in Rio, o que precisamos é mais responsabilidade pessoal, auto reflexão
e menos baboseiras para se preocupar. Enquanto a gente mata e morre por
amenidades, há de fato uma geração inteira se perdendo, fadada a infelicidade e
a uma vida pobre, e não falo apenas de dinheiro. Ah, e se você acha que isso
não tem muito a ver contigo. Só te pergunto uma coisa: quem vai cuidar de você
em sua velhice?
E se você ficou curioso quanto a minha opinião se essa é ou não uma
geração perdida, a resposta é simples. Se eu acreditasse mesmo nisso, não
perderia preciosos 40 minutos escrevendo esse texto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário