Hoje, 28 de abril, é o Dia Nacional da Caatinga. Desde 2003
comemora-se esse dia, e a data escolhida é a do aniversário de João Vasconcelos
Sobrinho, primeiro ecólogo nordestino e pioneiro nos estudos sobre esse bioma.
As pessoas que acompanham esse blog sabem das dezenas de postagens de
fotografias e textos que tenho sobre a Caatinga e quanto eu sou apaixonado por
esse bioma. Mas infelizmente, não temos muito para comemorar.
Mais de 50% desse bioma já não existe mais e encontra-se drasticamente
fragmentado, descaracterizado e sofrendo intensa pressão antrópica. Além disso,
a Caatinga é o bioma brasileiro que possui menor proporção de áreas protegidas, por isso, não exagero dizer que esse é um paraíso
em extinção. Talvez esse descaso que o governo (e a população brasileira) tenha
com a Caatinga seja oriundo de um preconceito estabelecido a séculos atrás e que
classifique a Caatinga como um lugar seco, pobre e feio, servindo de cenário
para as mazelas de um povo que sofre e tem uma história triste e que muitos
brasileiros não querem contar.
Mas a Caatinga é muito mais que isso. Há beleza em cada cantinho que
se olhe, com paisagens que não consigo nem descrever. Há uma cultura única, forjada
no rótulo de Cangaço, mas que é muito mais rica do que aparece nos filmes e livros
de história. Na Caatinga há vida! Lá eu passei alguns dos melhores momentos da
minha vida, ri e chorei. Mais que isso, na Caatinga eu redescobri a minha vida.
Exatamente por isso que eu sempre retratei apenas a beleza e alegria desse
lugar. Mas não hoje... No aniversário dela terei que mostrar outro lado. Ao
longo dos três anos trabalhando nesse bioma eu fui testemunha incólume da exploração
e destruição desse paraíso. Eu assisti quieto à abertura de estradas, retirada e
queimada de milhares de metros quadrados de vegetação nativa, caça de animais,
criação de carvoarias e mineradoras ilegais. Assisti de perto, muitas vezes, ao
lado de agentes do IBAMA.
Não há o que comemorar no aniversário da Caatinga, afinal de contas,
quando apagarem as velhinhas e o escuro tomar conta da festa já não restará
Caatinga quando as luzes acenderem.
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