3 de abril de 2011

Quando os mundos colidem


Quando estamos no campo vivemos no limite, em vários sentidos. Mas a fronteira mais importante está dentro de nós mesmos. Depois de um mês fora de casa, com quase nenhum contato pessoal,  longe de rostos conhecidos e passando quase todo tempo em que não se está dormindo dentro do mato, nós percebemos o quão negligente somos com nossos instintos. Depois de tantas semanas trabalhando com mamíferos aqui na Caatinga eu começo a notar que não sou tão diferente assim. A cada dia que se passa começo a enxergar melhor, fico cada vez mais sensível quanto aos movimentos no escuro de uma noite sem lua. Minhas ações mais complexas na mata se tornaram autônomas e praticamente impensadas. Me sinto parte desse mundo e o retorno pra casa, em uma metrópole, começa a me causar certa estranheza. As luzes, barulhos, vozes, fumaça, tudo me parece hostil, tudo me parece estranho...

Talvez eu não seja de nenhum desses dois mundos, talvez o meu mundo ainda não tenha sido descoberto, ou quem sabe tenha sido extinto.


Ouricuri, Pernambuco, Brasil.
Março de 2011


Um comentário:

  1. é meu amigo, o homem hoje está muito longe de poder voltar ao teu habitat que outrora dominasse muito bem, mais, em se tratando de 'biólogos' ou seja "'bichos do mato'", não é de se assustar essas tais indagações a cerco de onde, verdadeiramente é nosso lugar. No mato, lugar maravilhoso, mais que de uma certa maneira não nos completa, a cidade, lugar bom posto que se diz, mais que também não satisfaz, então pergunto, onde de veras, será este lugar que trará luz sem ofuscar os olhos, e calmaria sem deixar de ser intenso, deixo aqui também esta pergunta, que como você, eu ainda não consegui obter respostas, pelo menos não que me pudesse satisfazer...""Mato/Cidade""

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