6 de fevereiro de 2011

O perigo do moderno ecologismo e o temor de Darwin

Certa vez participei de um evento de ecologia em Minas Gerais e ouvi a palestra de um homem que se dizia ativista ambiental e explanava a sua aparente preocupação com o futuro do planeta. Esse homem falou sobre aquecimento global, redução do consumo, estratégias de reutilização do lixo, etc. Tudo corria muito bem até que, para a minha decepção, ele se perdeu em seu próprio conceito e disse “a existência da nossa sociedade destrói tudo o que é natural do planeta e nós, como seres superiores, não podemos acabar com os animais e as plantas”.

Não, nossa sociedade não destrói tudo que é natural, simplesmente porque nossa sociedade também é algo natural. Nós fomos gerados pelos mesmos processos de evolução e seleção natural que gerou todas as outras espécies desse planeta e por isso temos tanto direito a vida quanto elas. Nós somos naturais da Terra e as modificações que fazemos em nosso planeta também são naturais, aliás, elas são fruto da existência de uma de suas espécies: o homem. Entretanto, também não somos tão especiais assim. Somos uma espécie como qualquer outra, seja biologicamente ou socialmente.
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Temos que analisar com cuidado o posicionamento que atribuímos à nossa existência neste planeta. Durante séculos o homem se viu como um ser único e superior a todas as outras formas de vida. O resultado foi desastroso. Nós ocupamos, consumimos e exploramos quase tudo que estava a nossa volta, simplesmente porque nos achamos donos da Terra, o que não é nenhuma surpresa, e acho até bem lógico para a época. Mas o tempo passou, e uma das coisas que realmente nos separa das outras espécies é a capacidade que nós temos de avaliar as situações, fazer projeções e tomar atitudes que podem influênciar todos os habitantes da Terra.

Frente a crise ambiental que estamos passando, uma onda de pensamento ambientalista, que eu chamo de ecologismo, vem varrendo a sociedade humana e é aí que mora o perigo. Já vi pessoas fazendo o mesmo papel do homem dos séculos passados, só que ao inverso, colocando a humanidade como a escória da natureza. Só que essa visão pode ser tão perigosa quanto a outra. O ecologismo está trazendo a tona uma sobrecarga de informações, e banalizando as discussões ambientais atuais, e como disse o biólogo Efraim Rodrigues em seu maravilhoso blog “na falta de argumento melhor, a pessoa se diz um grande ambientalista porque sua tia tem uma horta cercada de garrafas PET”. Isso pode ser um perigo iminente tanto quanto a liberação de carbono na atmosfera e está na hora de encaramos isso com seriedade. Os problemas ambientais atuais devem ser trazidos pra mídia sim, debatidos em escolas sim, mas não devem ser tratados como a tendência na nossa década ou como mais um estilo de vida.

Aliado ao ecologismo, creio que um dos maiores problemas para a conservação da natureza atualmente seja esse abismo entre o homem e as outras espécies. Nós temos muita dificuldade em aceitar que também somos animais, como qualquer outro, e que não temos nada de muito especial, mas que também não somos desprezíveis, como dizem alguns ecologistas por aí. Talvez esse fosse o maior temor de Darwin ao propor a Seleção Natural e a origem das espécies: destruir a imagem quase sagrada que o homem tem dele mesmo. Mas o que Darwin tratou como teoria, hoje é fato! Mesmo assim, mais de 200 anos se passaram desde que Darwin e Wallace expuseram publicaram seus dados, mas nós ainda temos problemas em absorver as suas idéias. Ou nos colocamos em um patamar acima dos demais organismos de nosso planeta, como seres magnos, ou abaixo de todas as formas de vida, como os destruidores de um mundo perfeito. Mas não é assim que deve ser. Tal distanciamento não nos permite enxergar que nós também fazemos parte do mundo e que dividimos nossa casa no cosmos, a Terra, com nossos parentes, sejam eles próximos ou distantes. Se conseguirmos entender que somos só outra espécie vivente e que as nossas ações não irão afetar apenas os “animaizinhos” e “plantinhas”, mas também nós mesmos, pode ser que caminhemos para o que chamamos de “progresso”.

Assim como as demais espécies, nós temos nossa sociedade, selecionamos nossos hábitats e precisamos de condições ambientais propícias para sobreviver. Porém, estamos ignorando tudo isso. Enfrentamos as crises ambientais atuais completamente alheios ao que acontece ao nosso lado. Pensamos em escala global e esquecemos que os maiores problemas não são causados em dimensões apoteóticas e sim pela soma de pequenos e contínuos distúrbios. Estamos diante de uma crise ambiental que ultrapassa os limites classificativos de espécie, e começa a ameaçar uma parcela incomensurável da biodiversidade, incluindo nós mesmos.

Em contrapartida, temos uma legião de ambientalistas sedentos por mudanças e decisões extremistas que possam banir os homens poluidores da Terra. O problema é que na realidade esses ambientalistas não pensam, não falam e não agem. Quantos blogs iguais ao meu existem por aí? Quantos textos revoltados ou pomposos sobre ecologia você já leu por aí? E no final das contas o impacto disto foi substancial? Creio que não. Parte dessas pessoas vive um ecologismo momentâneo, normalmente alimentado pelo número de seguidores em seus twitters.

Então cuidado ao sair levantando a bandeira ecológica por aí. A cor verde nunca esteve tão em voga nos últimos anos, seja das notas de dólares americanos ou dos falsos projetos de apoio ao selo ambiental. E nunca se esqueça, o verde não é um estilo de vida, é só uma cor!

Um comentário:

  1. A humanidade, no curso do tempo, teve de suportar das mãos da ciência dois grandes ultrajes contra seu ingênuo amor-próprio. O primeiro ao dar-se conta de que a nossa Terra não era o centro do Universo, mas um grãozinho num sistema cósmico de magnitude praticamente inconcebível. [...] O segundo, quando a pesquisa biológica tirou do Homem a primazia pessoal de haver sido especialmente criado, relegando-o a uma descendência do reino animal.

    Sigmund Freud

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