3 de setembro de 2014

250 novas chances de extinção de espécies no Brasil

Nosso lindo planetinha azul está prestes a entrar na sexta onda de extinção em massa, uma das piores (e equivalente àquela que extinguiu os dinossauros). Um estudo do eminente ecólogo Stuart Pimm publicado na importantíssima revista Science (leia aqui) indica que nos períodos pré-humanos as taxas de extinção regulavam em torno de uma espécie a cada 10 milhões de anos, hoje são 100 espécies a cada mil anos. Quer saber a causa? Nós.

Mas porque extinção é algo tão preocupante? Se você pensa que o motivo mais danoso por trás da extinção é que os seus netos não vão poder ver um peixe-bói, você está tremendamente enganado, embora isso já seja triste por si só. A extinção de uma espécie deixa um espaço ecologicamente funcional (= nicho) vazio em uma floresta, criando um efeito em cascata que poderá condenar toda uma floresta e os serviços ecológicos providos por ela. Não é apenas o direito de existência de uma espécie que está em jogo, é a sobrevivência e a qualidade de vida de muitas outras, inclusive a nossa. Para você entender de forma mais didática a importância de uma única espécie para todo um ecossistema, veja o vídeo abaixo.




Incrível, não é? Mas ainda bem que existem lobos para que pudessem reintroduzi-los. O problema é que em parte considerável dos casos a extinção não é apenas local, é total, e a espécie é retirada da Terra para sempre e a consequência pode ser desastrosa e irreparável.

Certamente você já ouviu falar de algumas espécies extintas pelo homem ao redor do mundo. Mas você sabia que espécies brasileiras já foram extintas? A grande maioria das pessoas não sabe disso, mas pelo menos uma dezena de espécies já foi extinta no Brasil. Dentre elas podemos citar a perereca-paulistinha (Phrynomedusa fimbriata), habitante de São Paulo e extinta por volta de 1920 pela fragmentação de sua única área de vida na Floresta Atlântica; a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus) que habitava áreas de Floresta Atlântica e campos no sul do Brasil e foi extinta na década de 1960 devido a caça, biopirataria e perda de hábitats; o rato-candango (Juscelinomys candango), considerado extinto em 1965 devido as obras de construção de Brasília, que destruiu a única localidade de Cerrado de ocorrência dessa espécie. Esses são só alguns exemplos mais emblemáticos, mas tantos outros podem ser citados, como o minhocoçu-gigante Rhinodrillus fafner, em Belo Horizonte, e a libélula Acanthagrion taxaensis no Rio de Janeiro.

Se você acha que isso está no passado, eu tenho uma notícia triste pra você. Esse ano três espécies de aves endêmicas da Floresta Atlântica do nordeste brasileiro foram consideradas potencialmente extintas, como diz um estudo brasileiro (leia aqui). Além disso, outras espécies, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), estão extintas na natureza. Isso lhe parece pouco? Acho que não. Mas infelizmente a situação não para por aí, cerca de 10% da biodiversidade brasileira possui algum tipo de ameaça, muitas dessas estão à beira do colapso populacional, o que coloca o Brasil de frente para a maior onda de extinção de espécies de sua história. Engraçado, a gente não vê isso na televisão, isso não é ensinado nas escolas e raramente é dito fora do universo acadêmico da ciência. Ou seja, as políticas públicas brasileiras (+ mídia) passam uma estranha ideia que a extinção é um fenômeno dos outros, e muito longe da realidade brasileira. Mas não é, infelizmente.

Não há pererecas-paulistinha, não há ratos-candango, não há araras-azul-pequena, e se continuar assim em pouco tempo também não haverá onças-pintada (Panthera onca), e mal sabemos a consequência disso. Segundo um estudo publicado por brasileiros na Science (leia aqui), existe menos de 250 indivíduos de onça-pintada na Floresta Atlântica e devido a problemas genéticos causados pelo intercruzamento entre parentes próximos, a população efetiva pode ser de cerca de 50 indivíduos apenas. Mais do que triste, isso é chocante.

A causa é a mesma de sempre: caça, perda de hábitats por contra da destruição de florestas, poluição por pesticidas, mudanças climáticas, etc. Isso tudo porque a nossa sociedade está viciada em consumo e crescimento, vivendo uma febre de expansionismo baseada em uma economia cega, surda e histérica. Duvida? É só abrir um jornal qualquer na seção de economia e verá que quase todas as notícias têm palavras como ‘crescimento’, ‘desenvolvimento’ e ‘aumento’, sempre dando a ideia de que nossa sociedade precisa continuar estimulando um crescimento desenfreado ou irá sucumbir. Mas não se engane, a via é oposta. A sociedade irá sucumbir se continuar pensando em crescimento desenfreado.

Se a onça-pintada for extinta, grande parte das notas de cinquenta reais se extinguirá junto, afinal, a biodiversidade é um dos patrimônios mais valiosos de um país. Enquanto o Brasil não entender isso, não importa o quanto "cresça" economicamente, será eternamente pobre.

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