Hoje eu li uma notícia do jornal Metro do Rio, informando que finalmente
o “aterro sanitário” (ou seria lixão?) de Jardim Gramacho, no Rio, será
desativado no próximo domingo, deixando para trás 30 anos de crimes ambientais
e quase 6 mil pessoas que dependiam do lixo para seu sustento. A saída que o
governo criou foi dar um auxílio de pouco mais de R$ 14 mil para as 1.719 pessoas
que moravam no entorno e conseguiram comprovar que viviam do lixo, e oferecer
cursos profissionalizantes para eles. O primeiro problema: a adesão aos cursos
foi zero por falta de documentação. Então o governo resolveu quebrar burocracias
e tirar a exigência de certos documentos. Segundo problema, grande parte dos
catadores é analfabeta e estão na faixa dos 60 anos, e como eles mesmos
declararam na reportagem, passaram a vida toda no lixo, não sabem fazer mais
nada, estão velhos e o mercado de trabalho não poderá absorvê-los. Ao ser entrevistado,
o Secretário Municipal de Conservação do Rio, Carlos Roberto Osório, disse: “A
primeira coisa que temos que fazer é tirar essas pessoas de condições de vida
insalubres. O auxilio é para ajudá-las. O que eles vão fazer a partir de agora
é uma decisão individual!”.
O Secretário Carlos Osório diz que o governo do Rio investiu
aproximadamente R$ 6 milhões em outras seis áreas que irão receber as 8.000
toneladas de lixo por dia produzidos pelos municípios do Rio de Janeiro, Duque de Caxias,
Nilópolis, Mesquita, São João do Meriti e Queimados. Contudo, o Sociólogo da UFF,
Jorge Pinheiro, ao escrever no portal Lixo, destaca que esse destino ainda é um enigma, e
após uma longe e detalhada pesquisa pela internet, eu também não consegui saber
onde ficam essas áreas, logo, quem dirá saber sobre suas infraestruturas e
aproveitamentos. Agora vamos a análise mais prática da situação.
Eu entendo e apoio as ações do governo em querer desativar o lixão de
Gramacho, unicamente por questões ambientais. Em sua capacidade máxima, o solo
argiloso do lixão está sendo monitorado diariamente sob o risco de ceder e
liberar o lixo direto na Baia de Guanabara, causando um desastre ambiental
ainda maior que as três décadas de atividade já causaram. Entretanto, eu
consigo ver um problema social e ambiental grande nessa história toda. No
entorno desse lixão foi estabelecido uma atividade de reaproveitamento e
reciclagem de lixo que retirava mais de 200 toneladas diárias de matéria útil,
criando uma cadeia de trabalho responsável pelo sustento de mais de 15.000
pessoas que viviam desse lucrativo e sustentável trabalho dos catadores, que
encontraram uma próspera fonte de renda, sem custos para a sociedade e
reintroduziu toneladas de matéria prima de volta pra sociedade, economizando
valiosos recursos naturais.
Fica claro que o fechamento desse lixão necessitaria de um
planejamento mais detalhado, que considerasse o suporte das localidades novas
que receberiam esse lixo, seu potencial de reaproveitamento aliado com a parte
da sociedade que necessita dessa função para sua sobrevivência, a facilidade de
estabelecimento das cooperativas e associações ligadas a essa função, entre
outros itens. Porém, o que se vê é um governo que lava as mãos socialmente, não
apresenta planejamentos ambientais e faz uma cortina de lixo tão espessa que
não é possível buscar o envolvimento da população, a propagação das informações e a
participação dos interessados no assunto, como catadores, comerciantes, indústrias e
ecólogos. Essa é mais uma oportunidade perdida para o governo aprender e
ensinar a fazer sustentabilidade.
Uma vez li por aí que a Ecologia e a Economia são duas irmãs que não
se dão muito bem. Na verdade, eu acho até que elas se gostam, mas enquanto a politicagem
continuar de fofoca pelos cantos, não será possível fazer as pazes.
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Nosso governo funciona como o câncer da nossa própria existência, cuspindo mentiras em nossos rostos cheios de cicatrizes esculpidas malevolamente por um sistema hipócrita.
ResponderExcluirWow, eu fiquei até sem ar com teu comentário, irmão. Mas é isso mesmo. Parece que a política tem certa dificuldade em aprender com seus erros.
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