3 de abril de 2012

Discussões ambientais que geram lixo


Há uma vertente na ecologia que discute tanto os estorvos na sociedade, a partir de aspectos como desigualdade social, distribuição de recursos irregular, quanto problemas de maior amplitude, como a excessiva produção de lixo, o baixo reaproveitamento dos materiais descartados e as consequências ambientais dos costumes culturais de nossa espécie. Nos últimos anos essas discussões foram ativas no cenário de políticas ambientais, mas aparentemente servem mais como pauta para enfeitar folhas A4 do que como planejamentos aplicáveis. Alguns ambientalistas, muitos políticos e quase toda a mídia adora explorar e debater assuntos que relacionem sociedade e ambiente. Mas de fato ninguém valoriza os projetos que casam ações sociais e ambientais ao mesmo tempo.

Já tive a oportunidade de colaborar com projetos socioambientais que visavam aumentar o recolhimento de lixo reutilizável, permitir a reciclagem dos materiais mais baratos e criar, junto a pessoas de uma parcela da sociedade de classe baixa, uma oportunidade de trabalho autossustentável que dê lucro. Usando essa mesma temática, já ouvi falar de dezenas de projetos semelhantes em muitas capitais do Brasil, boa parte não alcançou seus objetivos e muitos nem saíram do papel. O problema é o mesmo para todos. Falta de investimento inicial. Um projeto como esse, embora seja uma iniciativa pouco onerosa, necessita de um capital inicial. De onde esse dinheiro poderia vir? De muitas partes. Em primeiro plano, das prefeituras e governos estudais, que já tem em seus orçamentos uma cota para apoio de ações socioambientais, mas que normalmente desviam essa verba para outras ações, ou mascaram o investimento em projetos com títulos ambientais e aplicações apenas sociais. Em segundo plano, os investimentos poderiam vir de instituições particulares, especialmente as com ações potencialmente impactantes ambientalmente. Mas aí entra outro problema. Não há uma lei específica que deduza do imposto de renda de uma empresa o valor doado a um projeto ambiental. O mais interessante é que há uma lei que faz isso integralmente para apoio a projetos culturais (Lei Rouanet). Ou seja, se você quiser criar um espetáculo de dança, poderá fazer isso com o apoio integral da Vale, por exemplo, mas se seu projeto for para ajudar a reduzir os danos ao meio ambiente e tornar sua cidade um lugar mais justo e limpo para seus habitantes, terá de fazer isso sozinho.

As discussões ambientais começam nos papeis dos protocolos de governantes e ambientalistas, por fim estes papéis vão parar no lixo e ninguém quer pagar pra que esses papéis não se tornem mais lixo nos oceanos e aterros sanitários. Esse é mais um caso de discussões ambientais que só geram lixo.

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