3 de novembro de 2011

Políticas públicas de deseducação

Alguns meses atrás começou uma discussão sobre o rumo da educação em diversos países da América do Sul, e o estopim foi estourado no Chile, onde milhares de jovens vem se reunindo nas ruas em passeatas pela implantação de uma educação de qualidade e gratuita. A capacidade de persistência e foco dos estudantes chilenos realmente é admirável, e me fez pensar na educação brasileira.

Não é novidade para ninguém que a educação brasileira está sucateada, e vem sendo negligenciada pelo governo a gerações, eu mesmo já escrevi sobre isso aqui no blog. Mas a situação está ficando cada vez mais crítica. No Rio de Janeiro o governo já brincou com o balaio de aprovar e desaprovar a chamada ‘aprovação automática’, que me parece uma absurda medida compensatória para não prejudicar alunos que estão sendo lesados pela falta de professores, péssima infraestrutura, falta de materiais, etc. Na realidade, a aprovação automática é só mais uma trapaça do governo para que não precise manter um número grande de alunos nas escolas por conta de repetições, e assim possa reduzir os custos governamentais. Assim como no Rio, em Minas Gerais os professores da rede estadual de ensino permaneceram por semanas em greve devido aos baixos salários, condições de trabalho insustentáveis e sobrecarga de trabalho. O mais interessante é que na mesma época que os professores reclamavam (com razão) de seus péssimos salários, o governo mineiro aprovou a apelidada “bolsa crack”, que é um auxílio de até R$ 900,00/mês para famílias que possuem dependentes do crack que não possam prover seu sustento. Sim, um absurdo que me parece apologia, e pior, financiamento do tráfico com verba pública. No Piauí, assim como em boa parte do nordeste, faltam escolas, e as que existem não possuem material e professores, não fornecem alimentação aos alunos, funcionam em horários parciais por falta de funcionários, e em algumas se quer há energia elétrica por falta de pagamento. Enquanto isso, os deputados e senadores aprovam seus próprios salários, que chegaram a aumentar 149,6%. Enfim, há ainda uma infinidade de fatos e mazelas a serem relatadas e que tornaria esse simples texto em um livro de Karl Marx. Voltemos ao foco inicial.

Ao juntar tantos fatos e testemunhar o lamentável estado da educação brasileira eu começo a sentir medo do futuro. Afinal de contas, a desestruturação da educação de agora vai gerar um rombo intelectual nas próximas gerações, e que, mesmo com um pródigo e futuro investimento governamental para sanar esse problema, levará outras muitas gerações para achar a cura desse mal. O maior crime já cometido pelo governo foi deixar de investir na educação, que está na base da saúde, da ciência, do meio ambiente, da tecnologia, da economia... É triste, mas o governo está na espinha dorsal dessa política deseducadora. E sinceramente, eu não acho que isso possa ser sem querer.

Embora estejamos presenciando “bom momento” no Brasil, por conta de uma dita posição privilegiada que estamos tendo na política internacional, o que percebo é que isso é apenas um status quo (no sentido estrito do termo) e que não perdurará por muito tempo. Não há uma base educacional no presente, e futuramente teremos um exército de pessoas despreparadas tecnicamente, intelectualmente e completamente incapacitadas de se autogovernar ou escolher seus governantes, criando assim uma sociedade cada vez mais dependente da atual política de assistencialismo que vem crescendo como uma praga modista. O problema é que essa moda tem consequências gravíssimas.

Isso tem a ver com todos nós, e todos também dividimos parte da responsabilidade, afinal de contas fomos nós que elegemos os governantes negligentes educacionalmente e somos nós que estamos deixando isso acontecer enquanto permanecemos inertes e apáticos. Há muita coisa que podemos fazer, e embora as novas gerações não estejam acostumadas a agir, vocês ficariam surpresos com o que uma sociedade organizada é capaz de fazer.

Agora há duas opções que você pode seguir: fingir que não sabe disso ou se esforçar pra fazer diferente, mesmo que seja apenas no teu mundo circundante. Escolha!

2 comentários:

  1. Vou complementar esse post com esse comentário, com uma pequena atualização!

    Enquanto os alunos da USP fazem essa manifestação ridículo, alunos, funcionários e professores da Universidade Federal de Rondônia estão sendo coagidos, reprimidos e ameçados de morte por conta de um comando de greve declarado contra a atual administração corrupta e negligente que permitiu que a universidade chegasse a um estado lastimável. O atual Reitor faz parte da base aliada do PMDB ao governo federal e seu poder já ultrapassou os limites éticos, morais e legais brasileiros... Mas isso não é notícia, né?!

    Enquanto alunos e professores lutam no escuro por dignidade, educação e respeito, mesmo com as vidas em risco, alguns pseudointelectuais gastam tempo e vida em prol de uma prática condenável e ganham a atenção da mídia.

    A educação brasileira é lamentável...

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  2. A educação no Brasil é tão lamentável ao ponto de alunos de ensino médio não saberem o que são hemácias e ainda "pensar" que morcego é rato que voa.
    Alunos de terceiro ano do Ensino Médio não sabem fazer contas de somas, subtrações, multiplicações e divisões. Isto é, eles não estão sabendo fazer contas básicas e simples. É um absurdo!

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